A gigante sul-coreana de tecnologia Kakao está avançando em seus planos para introduzir uma stablecoin lastreada no Won Sul-Coreano (KRW) através da blockchain Kaia. Esta iniciativa estratégica visa integrar a moeda digital ao vasto ecossistema da Kakao, que atende mais de 49 milhões de usuários ativos mensais, facilitando pagamentos, remessas e liquidações on-chain.
O movimento ocorre em um cenário regulatório dinâmico na Coreia do Sul, onde o governo e o banco central navegam as complexidades da adoção de ativos digitais. A blockchain Kaia, resultado da fusão das redes Klaytn e Finschia, aprovada em fevereiro de 2024 e com seu mainnet lançado em agosto de 2024, posiciona-se como um pilar fundamental para esta expansão. A união dessas plataformas, apoiadas por gigantes de mensagens como KakaoTalk e LINE, busca criar o maior ecossistema Web3 da Ásia, com acesso potencial a centenas de milhões de usuários. A Kakao e sua afiliada Kakao Pay são membros ativos do conselho de governança da Kaia, demonstrando um compromisso profundo com a infraestrutura.
Paralelamente, a Coreia do Sul está moldando ativamente seu quadro regulatório para stablecoins. O Digital Asset Basic Act, proposto em junho de 2025, delineia requisitos para a emissão de tokens lastreados em won, incluindo capital mínimo e a necessidade de reservas para garantir resgates. Embora o projeto de lei inicial sugerisse um capital mínimo de 500 milhões de KRW, propostas subsequentes indicam um aumento potencial para 1 bilhão de KRW. O objetivo é fomentar a transparência e a concorrência, ao mesmo tempo em que se estabelecem salvaguardas.
No entanto, o Banco da Coreia (BOK) expressou preocupações significativas. O governador do BOK, Lee Chang-yong, alertou em julho de 2025 sobre os riscos associados à emissão de stablecoins por entidades não bancárias, citando o potencial de confusão monetária, dificuldades na implementação da política monetária e conflitos com as políticas de liberalização cambial. O BOK tem defendido uma introdução gradual, começando com stablecoins emitidas por bancos e estudando tokens de depósito em cadeias públicas, buscando maior envolvimento na supervisão para gerenciar fluxos de capital e evitar a desestabilização do mercado.
As discussões legislativas continuam, com partidos políticos apresentando projetos de lei concorrentes que abordam diferentes aspectos da regulamentação de stablecoins, incluindo o tratamento de juros e o papel dos bancos. A necessidade de proteger a economia sul-coreana contra a digitalização do dólar é um ponto de consenso entre as diferentes facções políticas. O mercado sul-coreano já demonstra um apetite crescente por ativos digitais, com o volume de negociação de stablecoins atingindo 57 trilhões de KRW no primeiro trimestre de 2025. Investidores de varejo sul-coreanos estão reorientando seus investimentos de ações de tecnologia dos EUA para ativos ligados a stablecoins, refletindo uma confiança crescente na inovação local e na clareza regulatória emergente.
A KakaoBank, braço bancário do Kakao Group, também está explorando a emissão e custódia de stablecoins, aproveitando sua experiência em programas piloto de CBDC e parcerias com exchanges de criptomoedas. A trajetória da Kakao para lançar sua stablecoin KRW é um testemunho da convergência entre gigantes da tecnologia e o setor financeiro digital. O sucesso dependerá da navegação eficaz do ambiente regulatório em evolução e da capacidade de demonstrar valor prático para usuários e empresas, posicionando a Coreia do Sul como um centro de inovação em ativos digitais.